Na postagem anterior, mencionei meu treinamento no Zenkoji (Templo da Luz do Zen). Meu primeiro contato com o lugar foi em 2008, quando fui apresentado ao abade do mosteiro, para trabalhar nos diversos programas de Educação em Sustentabilidade, Qualidade de Vida e Desenvolvimento Humano realizados pela instituição há mais de vinte anos.
Num primeiro momento, achei que havia uma certa estupidez na "concretude" do Zen. O fato de não ter minhas perguntas satisfatoriamente respondidas me incomodava. E parecia que, por mais que me dedicasse, nunca era suficiente.
Após algum tempo, comecei a perceber que a falta de respostas filosoficamente estruturadas era estimulante, um motivo para aguçar a percepção em relação a tudo no entorno, um convite a experienciar, sentir na pele, vivenciar e então fazer associações com tudo mais.
Percebi que repetir algumas coisas simples como colocar os calçados arrumadíssimos com as pontas voltadas para fora toda vez que fosse entrar em algum ambiente, era uma forma de praticar o "estar ali", o "aqui agora". Não era simplesmente largar os calçados, mas mostrar que havia uma intenção, uma prática de atenção.
Após sete anos, é mais fácil perceber que cada estrutura, cada templo, cada objeto ou equipamento do mosteiro serve para uma mesma finalidade: a atenção plena. Todo treinamento realizado no Zenkoji (este ano iniciei uma espécie de coaching zen) tem por objetivo ajudar as pessoas a se tornarem seres humanos melhores. E com o fortalecimento de nossa "musculatura" mental temos a possibilidade de nos tornarmos mais fortes em nossa fé, seja ela qual for, mais firmes na questão da ética, dos valores e responsabilidades, mais focados e prontos para superar os desafios, sem parar nas primeiras barreiras que se apresentarem em nossos caminhos.
Atualmente, muito tem se falado em cuidados com o corpo. Estamos entrando na era da mente. Cada vez mais ouviremos falar da necessidade do fortalecimento dessa entidade de incalculável potencial.
Algumas pessoas já nascem com uma mente forte, concentrada, capaz de solucionar problemas e realizar os mais diversos feitos gastando pouca energia. A maioria de nós, muitas vezes se desgastam muito para realizar algumas atividades ou obtêm resultados medíocres porque estão dispersos, distantes, ausentes de si mesmos. Sem conseguir se perceber, desconectam-se mais e mais do todo, não percebem a beleza da interdependência entre todos os seres e tornam-se joguetes da impermanência, uma vez que acreditam que tudo é exclusivamente da forma equivocada como conseguem enxergar. E percebendo as coisas não como são, mas envolvidas em ilusões, as pessoas sofrem.
A prática da atenção plena, ou mindfulness, como tem se ouvido dizer atualmente, nos possibilita ver as coisas como são. Nos possibilita ver as coisas que sempre estiveram "escondidas" diante de nossos olhos. Nos possibilita redescobrir o óbvio e a magia que existe nele.
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